quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Felicidade possível


Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for. O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento. A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial. A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza).
Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar. Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas. Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver). Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar. Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc, é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido. Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade. Arthur da Távola





“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” Fernando Pessoa
A Felicidade a qual eu procuro é algo escasso, intocável, não conheço quem o tenha de sobra para ao menos compartilhar de seus benefícios. Todos precisam de tempo para pensar, para ficar sozinhos, para amar, para sofrer e simplesmente dar tempo ao tempo para que tudo se resolva. Mas o que é o tempo? O que realmente é o tempo? Geralmente ele é o espaço de algo que está entre aquele lugar em que não estamos e aquilo que não temos. O tempo nos fortalece ao mesmo tempo em que nos torna mais vulneráveis, alimenta lembranças e fortalece sentimentos.

Mais o essencial faz a vida valer à pena e para saber o que é essencial há de se ter um olhar poético.

Ao assistir a palestra de Rubem Alves, Swami Sambodh muito bem sintetizou nas seguintes palavras: "Rubem nos diz que esquecemos a poesia. E poesia não é um gênero literário. Poesia faz parte do ser humano, e é aquela caixinha que ele chamou “fruição”, a caixinha dos prazeres belos da vida. Olhar a beleza, ouvir a beleza, tocar com sentimento. Rubem chamou atenção para o significado da vida. Afinal, o que é a vida ? A vida não é na verdade uma busca constante pela alegria ? Se for, como apenas vivendo de ferramentas o homem poderia ser feliz? E perguntar-se sobre a nossa caixinha de fruição é simplesmente se perguntar sobre o prazer de sentir-se vivo todos os dias, e a delicadeza do amor que tenho pelo meu trabalho, pelo que amo, pelo que crio. O amor que tenho nos passos que dou pelo caminho. Na busca de mais um sorriso. Na canção que se refaz a cada instante e que chamamos “movimento infinito da vida”. Ética é amor. Eu estava sentado com os olhos cheios, assistindo como se o tempo tivesse parado. Mas eu sabia que o tempo parado era pela eternidade do momento, que sabemos, não tem tempo. Só tem tempo o que é enfadonho. Quando há amor, não tem tempo. Quando há paixão, não tem tempo. Quando há totalidade e devoção, não tem tempo.
Rubem Alves, que não tem tempo, um dia no tempo escreveu assim: “O amor é a vida acontecendo no momento: sem passado, sem futuro, presente puro, eternidade numa bolha de sabão.”

Qual é o quantum ? Só o amanhã dirá.

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